O principal argumento atualmente utilizado pelos que buscam justificar a elevada taxa de cesarianas no Brasil é de que a mulher tem o direito de decidir qual a via de sua preferência e cabe ao médico aceitar a decisão de sua paciente. Eu concordo! A via de nascimento é, ou deveria ser, um direito de escolha sim. Porém, esse argumento supõe que a grande maioria das mulheres prefere a cesárea, o que parece não corresponder à realidade já que um levantamento recente realizado pela Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz revelou que quase 72% das brasileiras deseja um parto normal no início da gravidez.
Mas não é sobre isso que eu vou falar hoje. Essa não será mais uma publicação explicando sobre o sistema que há por trás desse nítido descompasso entre a taxa de mulheres que declaram preferir o parto normal e as que conseguem parir. Hoje eu vou falar sobre informação, sobre as noções que temos de "conhecimento" e "ignorância".
Creio que muitas mulheres brasileiras realmente acham que a cesárea é o método mais seguro tanto para ela quanto para o bebê (afinal, o próprio levantamento da Fiocruz demonstrou que 28% das brasileiras desejam uma cesárea desde o início da gestação). Muitas decidem pela cesárea antes mesmo de receber o exame de gravidez positivo.
E aí você, que conhece os benefícios do parto normal para o binômio mãe-bebê deve estar se perguntando "Mas como pode uma mulher fazer uma opção tão séria quanto essa assim sem pensar? por que ela não busca informação antes de escolher agendar a cesariana ou de aceitar a sugestão de seu médico?". Acontece, queridos leitores, que não é preciso buscar aquilo que já temos. Assim, se pensamos ter o conhecimento, também pensamos não precisar buscá-lo. Portanto, se a mulher está iludida a esse respeito, essa ilusão será o maior bloqueio para a obtenção do conhecimento verdadeiro. Como já disse algum pensador por aí "não há melhor prisão do que aquela que não se parece com uma prisão".
Infelizmente, para muitos médicos é conveniente manter os muros dessa prisão de pé, para que as cesáreas continuem acontecendo, para que as mulheres sigam escolhendo a cirurgia de maneira "livre e informada" ou acreditem em qualquer justificativa que ele usar para recomendar que ela agende o nascimento. Isso mantém a vida deles organizada, sem a necessidade de desmarcar compromissos ou adiar viagens.
Para que tentemos nos libertar dessa prisão, antes devemos nos dar conta de que estamos presos. Para buscar o conhecimento, antes devemos nos dar conta de que somos ignorantes. Esse é o primeiro passo. Mas a consciência de nossa própria ignorância não nos é dada gratuitamente. Não a ganhamos, a conquistamos. E essa conquista requer muito trabalho! Não é fácil e nem simples, porque é muito mais fácil simplesmente crer e aceitar do que duvidar e questionar.
E é aí que entra o ativismo. Essa é a minha luta, a nossa luta. O que tentamos insistentemente dizer é "Mulheres, despertem! Libertem-se!"
Então, quando eu digo que você, gestante, não deveria agendar uma cesariana, eu não estou dizendo que sou contra essa escolha. Quando você me conta que o nascimento do seu bebê "sem dúvidas será por cesárea" e eu te questiono sobre os motivos dessa sua opção, não estou querendo te "forçar a escolher um parto normal". Me perdoe se em algum momento eu (ou algum outro ativista) pareci agressiva. O que tento é apenas te mostrar que talvez (só "talvez") o conhecimento que você diz ter para tomar essa decisão "consciente" trata-se de um pseudo-conhecimento baseado em mitos e ilusões que te mantém presa a uma realidade fictícia. Nada disso que você conhece é real. A cesárea não é mais segura. Ela não vai ser melhor para o seu bebê que está com o cordão enrolado no pescoço. Ela não vai te poupar da dor. Não vai.
A liberdade começa na descoberta e reconhecimento da ignorância. O verdadeiro conhecimento vem na sequência, através da desconstruções dessas ilusões que tanto confundem.
Se estiveres aprisionada, todo adereço acrescentado à prisão servirá apenas para esconder ainda mais a natureza dessa prisão ("ah, meu médico disse que a cesárea é mais limpa, é mais segura, me garantirá mais privacidade, é mais controlada do que um parto normal, meu bebê será melhor acompanhado, ah..." - tantos adereços). Vamos, mulher! Reconheça. Admita. Liberte-se. Busque! Aí sim, verdadeiramente LIVRE, você poderá dizer que ESCOLHEU. E eu respeitarei a sua decisão, seja ela qual for, porque é um direito SEU.
Beijos, com carinho."
Por Luciana Fernandes, mãe, doula e ativista, que um dia já aceitou ser submetida a uma cesariana achando que realmente conhecia sobre aquilo tudo, mas derrubou os muros daquela prisão e hoje deseja e luta para que todas as mulheres do Brasil sejam livres.
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