Segunda, 23 Janeiro 2012 18:57

PARTO NORMAL OU CESÁREA?

PARTO NORMAL OU CESÁREA?

Qualquer profissional de saúde minimamente informado, não pode ser contrário a cesárea, afinal essa é uma intervenção cirúrgica criada para salvar vidas de mães e bebês, porém entre isso e seu uso indiscriminado sem critérios clínicos, apenas baseado em conveniências de datas ou medo de dor vai uma grande distância.

Na década de 40 nos países como França, Inglaterra, Áustria , Japão dentre outros, deflagrou-se um movimento de  humanização do parto em atenção à grande insatisfação de mulheres e profissionais em relação à forma como se vinha conduzindo o mesmo, principalmente no que diz respeito às intervenções as quais as mulheres eram submetidas. Desde então nesses países vem se adotando condutas que visam mudar esse panorama, tais como: direito da parturiente a um acompanhante, respeito a  fisiologia do parto, ausência de intervenções desnecessárias e uso de recursos que tem como objetivo agilizar o processo. Seus números indicam que esses países obtiveram sucesso nessas iniciativas. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o índice máximo recomendável de partos operatórios é de 15%, na Áustria, por exemplo, esse índice é de 7,5%. Nesses países ninguém pergunta a mulher que tipo de parto ela quer, ela sabe que terá um parto normal, acredita na sua potencialidade e tem certeza de que se ocorrer algo inesperado existe a alternativa da cesárea.
Será que nós mulheres brasileiras somos menos capazes de que as européias, será que somos mais frágeis, incompetentes para parir? Porque será que no Brasil atingimos uma média nacional de cesárea de 62%, sendo que na rede particular e conveniada esse índice chega a mais de 90%?  
Uma série de fatores leva a esse índice abusivo, mas sem dúvida o principal é a falta de informação das mulheres que não sabem de seus direitos e potencialidades.  O Ministério da Saúde, preocupado com esses índices, que na verdade colocam o Brasil em uma situação pouco confortável diante da comunidade internacional, tem deflagrado ações para melhorá-los. Em abril de 2005 um importante passo foi dado com a criação da lei que garante à mulher ter a seu lado um acompanhante da sua livre escolha durante todo o trabalho de parto e pós-parto, seja ele normal ou operatório. As boas práticas na condução do parto e nascimento têm sido incentivadas, bem como centros de parto normal anexos aos hospitais. Nesses locais são valorizados: o protagonismo da mulher e do casal, a atuação da enfermeira obstetra, partos no quarto onde a parturiente permaneceu durante todo o processo de dilatação podendo caminhar e adotar posturas verticais para ser ajudada pela gravidade, não sendo necessária a transferência para centros cirúrgicos o que favorece a ação do “coquetel dos hormônios do amor” em especial a ociticina, como bem esclarece o grande defensor da humanização do parto, Michel Odent, obstetra inglês, no seu livro “A Cientificarão do Amor”.
Mas, por que será que ainda temos no Brasil tantas opiniões contrárias ao parto natural? Porque será que até  as profissionais de saúde na hora de dar a luz aos seus próprios filhos optam por uma cesariana, mesmo sabendo que se trata de uma intervenção cirúrgica e como tal tem seus riscos e maior exigência de repouso? Mesmo conhecendo as inúmeras evidências científicas que comprovam as vantagens para o bebê em passar pelas contrações uterinas e depois a saída pelo canal vaginal? Talvez isso aconteça por que ainda existe uma lacuna entre a forma que se ensina obstetrícia na maioria das faculdades do Brasil e o que o Ministério da Saúde,  mais recentemente através do projeto Rede Cegonha, preconiza para a condução da gravidez e parto no país.  A forma impessoal, por vezes até dura e sem nenhuma afetividade que esses profissionais presenciam  a condução dos partos durante seus períodos de internato e residência, talvez as faça temer tal situação para si própria e sua família, lamentável, mas é o que muitos relatam.
Se quisermos uma sociedade melhor, mais justa e fraterna, temos que entender definitivamente a importância de se favorecer o vínculo adequado entre mãe-bebê-pai, especialmente na hora do nascimento, apenas assistindo-o de maneira respeitosa e digna, incentivando o contato pele-a-pele, logo após o nascimento, estimulando a amamentação na primeira hora, mantendo o bebê todo o tempo com sua mãe e, no caso de uma cesárea necessária, que possa ser respeitado a hora do bebê, ou seja, que sua mãe tenha algum sinal de trabalho de parto, que seu bebê possa ser colocado sobre seu colo entre suas mamas mesmo durante a sutura do corte, tendo o bebê nascido em boas condições, é claro, isso fará toda a diferença na vida dessa família.
Nós, profissionais de saúde, que defendemos a vida plena e com qualidade, temos o dever de estimular e apoiar as mulheres e casais que de maneira consciente escolham viver essa experiência única em suas vidas, pois parafraseando Michael Odent: “Para mudar o mundo há que se mudar a forma de nascer”.
Wilma Manduca
Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde, Acupunturista e Doula
Atuando desde 1985 na preparação de casais para o parto

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